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domingo, 23 de outubro de 2011

Dos ensinamentos que são passados, ficam apenas os que o amor compreende.

Em um conselho estão reunidas todas as avós da humanidade
Sentadas em uma mesa redonda debatem  a existência humana
A primeira evidenciada à curva do círculo é  magra e pálida, a escuridão de seu olhos revelam a profundidade da alma, chamam-na  Tristeza. Na roda, ela parece não se importar com a coexistência com as outras senhoras, contudo sempre que percebe a oportunidade  de se propagar e dominar a conversa, o faz, acabando com que todas levem a atenção à ela. Terminando desta forma  com qualquer outro enfoque. E quando revolta silencia a todos em um único gesto.
Sentada ao lado de Tristeza está à Dor, que jamais revela sua completa face, vestida de capas e capuzes mostra parcialmente o início do corpo , porém jamais por inteiro. Ambas convivem de uma maneira única, parecem encaixar-se no prisma do observador. Ainda assim , quando sozinhas não conseguem manter-se unidas, pois a Dor pouco depende da Tristeza , enquanto a Tristeza vê a essência de sua existência na colega e companheira dor.
Quando a senhora de corpo farto e roupas coloridas resolve se manifestar, por diversas vezes é interrompida pela Tristeza:
-Alegria, senta-te novamente! Não vedes que estás a desorganizar a ordem do círculo? Não sabes que foste abandonada e todos riem por comodismo?
Os risos que ela provocava fazia  a tristeza levantar-se indo buscar apoio com  a Inveja.
Sentada com um vestido longo e verde ela analisa à todas em silêncio. Percebe o domínio que a Tristeza impõe, o apoio da Dor para com sua fiel escudeira. O envolvimento que a Alegria traz, ignora o fato de fazer parte do conselho , pois seus olhos estão voltados para o externo, acaba assim se anulando e sofrendo por não estar ocupando o lugar de nenhuma outra.
Em tom de indignação a Tristeza lamenta:
-  Estás a perceber Inveja? Alegria, sequer importa-se com seus desígnios e seus obstáculos! Não posso deixa-la agir assim, vai acabar por me expulsar desta roda!
Sutilmente a Inveja desafixa o olhar do centro para Tristeza e responde:
- Tens absoluta razão Tristeza, o sorriso farto da Alegria há muito incomoda. Por que não te retiras? e deixa-me com a Dor? Quem sabe nós duas juntas possamos fazer com a alegria saia, a dor é forte e sei como incitá-la para que fique mais do que a Alegria jamais foi.
Tristeza reflete.
Do outro ponto da mesa, União em seu manto azul percebe a Inveja rondar a Tristeza, e já então acostumada com as peripécias da irmã, atravessa em direção à ela.
- O que estás a fazer Inveja? Enquanto não compreenderes que compõe este conselho e assimilar o teu poder interno a Alegria te doerá eternamente. Não a deixa corroer-te novamente, una-te à ela e sentirá que a angústia que carregas cessará . Enquanto a você Tristeza, saiba que antes que a Alegria pudesse tomar os corações, foi você que os estruturou para receber o novo, quem os fortificou e ensinou o caminho para que pudesse viver apenas com as tuas bênçãos e não mais com o peso de tuas mãos sobre os ombros, ensinaste o caminho para que hoje todas possam rir e agora queres que retrocedam para o processo inicial? Não deixa levar-te pela lábia da Inveja!
A tristeza repensa, e volta para o seu lugar.
Escondida entre a União e a Alegria, está Amor. É pequena de rosto fino e os olhos encantam à todas.
Quando Amor se pronuncia na mesa , imediatamente a Inveja retira-se pois não consegue conviver com ela, todos os seus pensamentos e intuitos são destruídos com a presença do Amor, que fortalece a União e incentiva a Alegria.
Amor ainda assim acaba por se indispor com frequência com a Justiça que anda acompanhada da Razão.
Enquanto para Ela , a inveja, a tristeza e a dor são aceitáveis, para a Justiça e  Razão elas são completamente dispensáveis. Amor então com frequência lança-se à frente delas e com a força que possui enfrente Justiça e Razão. Por vezes ela vence a batalha , mas há situações em que amor sente seu coração se enxer das vontades da justiça e equilibra-se com a Razão.
Eis que então forma-se a trindade perfeita: Amor, Razão e Justiça acabam por formar uma pilastra que sustenta todo grupo, ainda que eventualmente se digladiem são elas quem guiam o restante, e quando não ouvidas levam a mesa ao estado original de não iluminação, injustiça e desamor.
E girando elas se mantém, emanando toda a sua força para a esfera mundana, algumas ganham mais força com a vinda para a terra, outras diminuem o seu poder quando não escutadas de coração limpo. Ainda assim, todas são sacras e independem de sua originalidade energética, seja o amor, a justiça, a razão, a inveja , a tristeza e a dor trindades combatentes em constante conflito, elas se mesclam e se fundem trazendo uma nova realidade, cada vez mais diversa .
Pois a Vida, Sala onde está essa grande mesa redonda, é sempre capaz de criar mais coisas do que elas poderão imaginar, novos móveis, novos lugares, novas senhoras.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Bruxaria, a arte da Deusa.


Depois de coberta de rótulos, preconceitos e ideias arraigadas na tradição sobre a velha arte,  me sinto cada vez mais responsável, como sacerdotisa, em desmistificar a religião, trazendo a verdade da Deusa novamente à luz.
Nós não sacrificamos animais, crianças ou qualquer outro tipo de vida. Para nós a Deusa é a própria natureza e todos os ciclos são sagrados, não tememos a morte mas tampouco desrespeitamos os limites da vida, nos alinhamos com a mãe-terra e suas transformações durante a roda do ano. Ainda assim não nos alienamos da vida mundana.
Não acreditamos em um único  Deus, com poder coercitivo pelo qual deve-se seguir se não quiser arcar com a consequência de suas punições, somos politeístas reconhecemos a energia divina nas mais diversas facetas que ela se manifesta, na alegria da festa, no recato da casa, na honra do sacrifício e na força da vida. Diferenciamo-nos quando tornamos a face negra de nossos Deuses divina, e tiramos dela o ensinamento para evolução.
Fizemos rituais, pois é através deles que nos tornamos cada vez mais próximos de nossos Deuses ,ou seja, de nós mesmos. Através deste mecanismo racional nos libertamos das amarras terrenas para adentrarmos um plano divino onde a conexão com a sacralidade interna e externa se torna iminente.
Não julgamos, compreendemos. A bruxaria antes de tudo é a Religião da Deusa, e Ela é aceitação, o amor, a compreensão e ainda que seja também tudo o que putrifica, o negro que consome a vida para transformá-la novamente em plena. Ela acolhe seus filhos mesmo que eles o rejeitem como o ocorrido durante a consolidação do patriarcado.
Não adoramos , reconhecemos . Temos imagens, pois é através delas que religamos a mente e  a emoção. Compartilhamos de fé com a vida e a Terra, não vendemos nossos valores nem nossas crenças, não convertemos, explicamos a doutrina somente aquele que a desejar.
Sequer reconhecemos o inferno cristão, quanto menos suas criaturas.
Portanto , meus caros. Digo e continuarei afirmando: Sim, eu sou uma bruxa!
Sou uma bruxa, quando me entrego aos mistérios da terra e reconheço meus Deuses no meu dia-a-dia , quando não me entrego em conformismo diante dos desafios que minha Senhora desprende em meu caminho.
Sou feiticeira, quando reconheço a veracidade da energia que emana de cada ser e torno dentro do possível a melhor aceitação e controle desta.
Sou filha da Grande mãe, quando me entrego aos mistérios femininos e descubro que verdadeira missão em equilibrar caça e caçador.

E ainda que esta firmação de meus votos traga-me com frequência alguns inconvenientes, continuarei a fazê-la até que  verdade de minha fé, entrega e consciência seja reconhecida pelos homens, pois pelos Deuses, há muito os sinto em minha existência.

Em amor perfeito à irmandade que habita esta terra ,

Kandake