Em um conselho estão reunidas todas as avós da humanidade
Sentadas em uma mesa redonda debatem a existência humana
A primeira evidenciada à curva do círculo é magra e pálida, a escuridão de seu olhos revelam a profundidade da alma, chamam-na Tristeza. Na roda, ela parece não se importar com a coexistência com as outras senhoras, contudo sempre que percebe a oportunidade de se propagar e dominar a conversa, o faz, acabando com que todas levem a atenção à ela. Terminando desta forma com qualquer outro enfoque. E quando revolta silencia a todos em um único gesto.
Sentada ao lado de Tristeza está à Dor, que jamais revela sua completa face, vestida de capas e capuzes mostra parcialmente o início do corpo , porém jamais por inteiro. Ambas convivem de uma maneira única, parecem encaixar-se no prisma do observador. Ainda assim , quando sozinhas não conseguem manter-se unidas, pois a Dor pouco depende da Tristeza , enquanto a Tristeza vê a essência de sua existência na colega e companheira dor.
Quando a senhora de corpo farto e roupas coloridas resolve se manifestar, por diversas vezes é interrompida pela Tristeza:
-Alegria, senta-te novamente! Não vedes que estás a desorganizar a ordem do círculo? Não sabes que foste abandonada e todos riem por comodismo?
Os risos que ela provocava fazia a tristeza levantar-se indo buscar apoio com a Inveja.
Sentada com um vestido longo e verde ela analisa à todas em silêncio. Percebe o domínio que a Tristeza impõe, o apoio da Dor para com sua fiel escudeira. O envolvimento que a Alegria traz, ignora o fato de fazer parte do conselho , pois seus olhos estão voltados para o externo, acaba assim se anulando e sofrendo por não estar ocupando o lugar de nenhuma outra.
Em tom de indignação a Tristeza lamenta:
- Estás a perceber Inveja? Alegria, sequer importa-se com seus desígnios e seus obstáculos! Não posso deixa-la agir assim, vai acabar por me expulsar desta roda!
Sutilmente a Inveja desafixa o olhar do centro para Tristeza e responde:
- Tens absoluta razão Tristeza, o sorriso farto da Alegria há muito incomoda. Por que não te retiras? e deixa-me com a Dor? Quem sabe nós duas juntas possamos fazer com a alegria saia, a dor é forte e sei como incitá-la para que fique mais do que a Alegria jamais foi.
Tristeza reflete.
Do outro ponto da mesa, União em seu manto azul percebe a Inveja rondar a Tristeza, e já então acostumada com as peripécias da irmã, atravessa em direção à ela.
- O que estás a fazer Inveja? Enquanto não compreenderes que compõe este conselho e assimilar o teu poder interno a Alegria te doerá eternamente. Não a deixa corroer-te novamente, una-te à ela e sentirá que a angústia que carregas cessará . Enquanto a você Tristeza, saiba que antes que a Alegria pudesse tomar os corações, foi você que os estruturou para receber o novo, quem os fortificou e ensinou o caminho para que pudesse viver apenas com as tuas bênçãos e não mais com o peso de tuas mãos sobre os ombros, ensinaste o caminho para que hoje todas possam rir e agora queres que retrocedam para o processo inicial? Não deixa levar-te pela lábia da Inveja!
A tristeza repensa, e volta para o seu lugar.
Escondida entre a União e a Alegria, está Amor. É pequena de rosto fino e os olhos encantam à todas.
Quando Amor se pronuncia na mesa , imediatamente a Inveja retira-se pois não consegue conviver com ela, todos os seus pensamentos e intuitos são destruídos com a presença do Amor, que fortalece a União e incentiva a Alegria.
Amor ainda assim acaba por se indispor com frequência com a Justiça que anda acompanhada da Razão.
Enquanto para Ela , a inveja, a tristeza e a dor são aceitáveis, para a Justiça e Razão elas são completamente dispensáveis. Amor então com frequência lança-se à frente delas e com a força que possui enfrente Justiça e Razão. Por vezes ela vence a batalha , mas há situações em que amor sente seu coração se enxer das vontades da justiça e equilibra-se com a Razão.
Eis que então forma-se a trindade perfeita: Amor, Razão e Justiça acabam por formar uma pilastra que sustenta todo grupo, ainda que eventualmente se digladiem são elas quem guiam o restante, e quando não ouvidas levam a mesa ao estado original de não iluminação, injustiça e desamor.
E girando elas se mantém, emanando toda a sua força para a esfera mundana, algumas ganham mais força com a vinda para a terra, outras diminuem o seu poder quando não escutadas de coração limpo. Ainda assim, todas são sacras e independem de sua originalidade energética, seja o amor, a justiça, a razão, a inveja , a tristeza e a dor trindades combatentes em constante conflito, elas se mesclam e se fundem trazendo uma nova realidade, cada vez mais diversa .
Pois a Vida, Sala onde está essa grande mesa redonda, é sempre capaz de criar mais coisas do que elas poderão imaginar, novos móveis, novos lugares, novas senhoras.
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